sábado, outubro 24, 2009

ERESHKIGAL - A Rainha do Submundo


Ereshkigal. Uma figura um pouco controversa, aparentemente ameaçadora mas que possui uma essência de causar admiração aos que realmente souberem compreenderem.

Uma grande Deusa suméria, filha de Anu (deus do firmamento) e Namu (a senhora dos oceanos) é a Rainha do Submundo. Senhora da energia interior e de tudo o que é intangível, da transformação, morte e renascimento, da justiça das almas, da regeneração. Várias são as lendas ao redor desta figura enigmática mas em todas elas, mesmo sento tão diferentes, podemos perceber uma mesma personalidade, suas características e sua verdadeira essência. Então vamos analisar um pouco do que conhecemos e entender quem realmente ela é.

Teria sido ela anteriormente a deusa Ninlil (filha de Ninshebargunu, uma antiga deusa da agricultura e Haia deus da estocagem) que, segundo a lenda, sendo profundamente desejada por Enlil (deus do ar, primogênito de Anu), acabou sendo violentada pelo mesmo, e fez com que fosse a julgamento frente a assembléia dos Deuses. Ele teria sido condenado a morte para pagar pelo crime e enviado para a Mansão dos Mortos e ela, posteriormente, teria descido em busca dele pois na verdade o amava. Lá acabaram por reinar como Ereshkigal e Gugalana (segundo outras fontes eles teriam retornado para as Esferas Superiores).

Nesse aspecto Ereshkigal seria na verdade uma deusa tríplice este sendo o seu lado anciã, assim como seria a mãe em Ninlil, e a jovem em Inanna (deusa do amor, da sensualidade e da guerra). No mito mais famoso relacionado a Inanna ela teve de descer ao submundo para resgatar seu marido Dumuzzi e assim encarar sua outra face (como deusa negra) em Ereshkigal, sua irmã-avó e parte de si mesma, passando pela morte e renascimento e assim pbtendo o conhecimento do equilíbrio entre a vida e a morte como parte de um todo.

Se analisarmos a mitologia suméria veremos que vários mitos se interligam e se cruzam, havendo várias divergências, como também nomes diferentes para um mesmo deus ou deusa. O consorte de Ereshkigal aparece também como Nergal (deus da guerra e da morte) que segundo este mito, teria ofendido a deusa, se recusando a prestar reverência em seu nome ao seu representante Namtar em uma certa reunião dos Deuses convocada por Anu. Após muita insistência dos outros deuses de ir até ela se desculpar pelo ocorrido pois temiam por sua fúria, acabou se apaixonando por ela e vice-versa. Chegou a fugir do submundo com medo de perder a vida que conhecia ao lado dos outros deuses mas, no final, se decidiu por passar o resto de sua existência junto a ela e juntos governando o mundo inferior.

De qualquer forma detalharei aqui a versão que eu, particularmente, aprecio mais, pois para mim possui uma ligação muito mais tênue com a essência propriamente dita de Ereshkigal e que realmente me ajudou a entender essa essência:


Como Ereshkigal escolheu o mundo subterrâneo para seu reino

Depois de Anu (deus do céus) se separar de sua esposa Ninhursag-Ki (Terra Mãe), suas lágrimas alcançaram as águas do mar de Mãe Namu que o acolheu em sua tristeza profunda e a partir daí Namu gerou um casal de gêmeos perfeitos: Enki e Ereshkigal.

E foi brincando no mar de Mãe Namu que cresceram. Embora vivessem em terra firme e sempre na companhia de seu adorado irmão mais velho Enlil, eram, por vezes, muito sábios para sua idade e desde cedo já mostravam um deslumbre de seus futuros destinos: enquanto Enki adorava boiar na superfície, Ereshkigal preferia mergulhar nas profundezas.

Em meio às brincadeiras Enlil dizia sempre que Ereshkigal perguntava demais. E ela se defendia dizendo que precisava saber das coisas cada vez mais, que sentia existir dentro dela, como no fundo do mar e no interior de tudo o que existe um algo a mais além do que se pode ver ou tocar (físico). Dizia perceber a existência de um mundo tão sutil que não era tão diferente do que conhecemos no físico, que seria um mundo interior refletindo o exterior e vice-versa, uma conexão “invisível” que une planos, formas e tudo o que existe de infinitas maneiras e interligando a tudo e a todos. E dizia sentir que, opostamente aos irmão que trabalhariam com o mundo em que conhecemos (Enlil faz os planos de criação pois é o Deus do ar, e Enki da forma a estes planos como deus da água) a missão dela seria exatamente o intangível.

A partir daí sempre discutia com Enlil pois ele a dizia para prestar atenção em Kur e os Guardiões da Trevas, em como são diferentes, por terem abandonado a segurança de Duku (montanha da criação) são seres zangados e instáveis e não entendia porque tinham que ser assim. Já Ereshkigal defendia que cada um é o que é e que não devemos nos prender a porquês, apenas entender que todos somos diferentes e aceitar esses seres como energias puras que não reconhecem controle ou limites, sendo essa sua natureza. Que basta notar no próprio mundo físico as diferenças entre tudo e que no mundo interior, aí sim, deveria haver algo a mais que uni de forma perfeita todas essas diferenças; algo que perpetua em tudo o que existe e que, nos apegando exclusivamente ao exterior (físico),
acabamos por não perceber.

E destas discussões Enlil sugeriu que ela tomasse cuidado com sua sua curiosidade, que ele mesmo também gostaria de entender Kur e os outros, mas que para o lugar onde eles foram ninguém jamais foi; acreditava que este Mudo Subterrâneo começa onde termina o Mundo Físico e, segundo Mãe Namu, As Grandes Profundezas se estendem tão alto quanto o firmamento e tão ao fundo quanto as águas do mar.

Mas Ereshkigal em seu interior cresceu repetindo para si mesma que não acreditava que aquele fosse um lugar perigoso apenas diferente e incompreendido.
E sempre com um desejo de conhecer o desconhecido e ir além nadava cada dia mais longe e mais fundo e embora sempre cansada fisicamente possuía muita predisposição interior para aprender e cercava Enlil com suas infinitas perguntas.
E com o tempo o seu pensamento foi mudando e, ao invés de se preocupar tanto em achar finalmente as respostas agora pensava em sempre ter perguntas, para poder aprender mais e mais. Entendia que o conhecimento é uma ferramenta, mas o que realmente importa é o fogo espiritual que dá sentido ao que se aprende ao fazer as perguntas certas.

E então, certo dia, ela finalmente concretizou o seu desejo de não retornar ao mundo físico, nadando até perder de vista a Terra Firme por muito e muito tempo até encontrar Kur e os Guardiões espalhados pelos limites da terra na entrada do Mundo Subterrâneo. Percebeu que eles estavam isolados, cada um no seu próprio espaço e se sentiu um pouco ameaçada, mas logo compreendeu que era a dor e desespero por algo que não sabiam o que era ou não se esforçavam para conseguir que os deixava assim e que, na realidade, não seriam seres ruins.
Então ela os aceitou do jeito que são, mesmo diferentes de tudo o que já havia visto e principalmente Kur com sua pele escamosa e asas poderosas, uma fera, e por mais assustador que tentasse parecer ela não sentia medo dele e entendia que por dentro deveria ser belo e que parecia ser a vitalidade da Terra Bruta, antes de ser lapidada.
Então, se dirigindo a todos, disse enxergar a beleza dentro deles e chamou-os para olharem para dentro e reconhecer a centelha que flui dentro de todos, dela e de tudo o que existe e que une a tudo, começando ela mesma mergulhando na solidão de Kur abrindo seu corpo, mente alma coração e espírito para ele.
Ele, por sua vez, afirmou que jurou desafiar até o fim a todos aqueles que se puserem em seu caminho e Ereshkigal respondeu aceitar o desafio desde que não fosse através da guerra, pois teria ido até lá atrás por causa da energia interior, para mergulhar na essência de todas as coisa e que ele seria seu grande desafio, que o entender fazia parte do processo e assim crescer na própria compreensão de si mesma e alcançar o reino mais além onde aparência não conta, apenas a essência... E foi assim que Ereshkigal ganhou o desafio não pela força mas por afeição, pois acabou cativando Kur que também se mostrou a ela e juntos tornaram-se companheiros adentrando o Mundo Subterrâneo e expandiriam seus horizontes mutuamente.

“Encher o vazio deste mundo com o meu ser, ajudar a Kur e tantos outros a olhar para dentro para poder crecser...” (pensou)
E então a voz de Ereshkigal ressoou forte e clara em todos os mundos da Criação, as Esferas Mais Altas, Mundo Físico, nos confis da Terra e pela primeira vez, no Mundo Subterrâneo, nas Grandes Profundezas:

“ Eu escolho as Grandes Profundezas, o Mundo Subterrâneo para meu Reino.”


E a sabedoria imensa de Ereshkigal e sua missão foi finalmente compreendida pelo irmão Enki, que não aceitava o “abandono” pela irmã, apenas quando foi atrás dela para tentar trazê-la de volta:

Enki mal podia suportar a dor da separação de sua mais querida companheira e amiga. E com um enorme peso no coração pela falta da irmãzinha Enlil tentava consolar Enki que lhe pediu para que criasse algo para trazê-la de volta. Enlil pensou e por fim afirmou que não poderia ir, pois tal lugar fica além do dos seus limites devido a promessa que fizera a mãe Ki de ser o guardião da Terra (Mundo Físico) e encorajou o próprio Enki para esta missão dizendo que ele encontraria um meio de fazê-lo principalmente por serem gêmeos e terem um laço muito forte e Enlil realmente esperava que Enki conseguisse. Mas Enki era muito jovem e Enlil começou a ensinar coisas a ele, dizendo que sua palavra era lei, que com ela atribuiu nomes aos Anunaki (deuses e deusas que deixaram a montanha sagrada da criação) mas que isto não era o suficiente e que precisaria da ajuda de Enki para organizar o Mundo Físico. E Enki disse então:
Todos viemos da Mãe Namu...Água, a essência de minha natrureza, e de Ereshkigal também, pode ser moldada em formas infindáveis, dependendo do receptáculo, sem, entretanto, jamais perder a sua essência...
E pensou: Assim como eu mesmo devo aprender, evoluir e crescer para um dia (logo,espero), resgatar Ereshkigal.

E assim Enlil conferia Nome pelo poder de sua Palavra e Enki conferia Forma, significado e identidade e Enki se transformou em Nudimud, o Criador de Imagens, Senhor das Formas Arquetípicas e a ele foram dadas todas as águas doces. E, em meio a administração de construções, passava bastante tempo em um lago ou pântanos pensando em sua promessa e de como cumpri-la. Sabendo que Ereshkigal nadava muito bem e que nadando se foi, pensou em algum modo de atravessar os oceanos e, observando o trabalho de Ningikuga (uma deusa Anunaki que fazia cabanas com argila e trançando juncos), teve a idéia de pedir a ela permissão para usar alguns de seus juncos na construção de um tipo de estrutura que pudesse levá-lo pelos mares e ela quis ajudá-lo em sua nobre missão lhe dizendo como deveria construir estas estruturas para que fossem fortes o bastante. Então ele criou o primeiro barco a remos que chamou de Magur e enquanto construía ia se preparando para a grande jornada. Assim que pronto se despediu de todos e partiu sozinho e remando sempre para o infinito, até que conseguiu chegar ao limiar e foi recepcionado por Kur. Assim que colocou os pés na areia escura e grossa sentiu-se vulnerável como se estivesse sendo revistado de dentro para fora e segurou a cabeça tentando segurar a pressão que vinha de dentro dele, pois se sentia invadido por uma enorme sensação de novos limiares de conhecimento sendo apresentados.
Então ouviu uma voz grave melodiosa e estranhamente calma dizer:
- Não lute contra a sensação. Você irá se adaptar à experiência do Mundo Subterrâneo logo, logo. Lembre-se, porém, da regra básica: se sua alma é pura, então os seus contatos aqui serão harmoniosos e irão faze-lo completo. Mas se você vem com medo, raiva e tudo o que for negativo ou desequilibrado, você terá então de enfrentar as sombras do seu coração, corpo, mente e alma antes de encontrar regeneração, cura e equilíbrio.
Conseguiu levantar a cabeça sem senti-la rodar e viu que tudo era estranho.com uma luz parecia vir de dentro da própria terra. Podia ver o contorno de uma grande construção toda de lápis lázuli e cristal, provavelmente um templo ou palácio. Mas se impressionou com as formas fantasmagóricas, que ele via ao seu redor, algumas muito ocupadas, sabendo o que faziam (seja lá’ o que fosse!), outras parecendo andar a esmo. Seres descarnados, amontoados de ossos que se movimentavam, e se Enki pudesse usar o termo, parecendo estar vivos. Finalmente, voltou-se na direção da Voz que o havia saudado e viu uma figura alta, toda vestida de preto, e com um grande capuz, sua face estava escondida. A Figura fez Enki assumir uma atitude de cautela e respeito que o surpreendeu. Nunca antes havia encontrado uma aura tão grande de autoridade e seriedade. Ele ia se apresentar mas a figura afirmou saber quem ele era e o que queria ali.e perguntou ainda como ele podia ter certeza de que sua irmã iria querer retornar com ele. Disse que todos aqueles que vivem vêm ao Mundo Subterrâneo ao final de seu ciclo de vida no Mundo Físico. Todos, sem exceção e com um gesto amplo, a Presença apontou para os amontoados de ossos descarnados. Portanto, todas estas presenças estão mortas? Ele percebia ter feito uma pergunta retórica A Presença permaneceu em silêncio, mas de uma certa forma, Enki não achou a reserva dela assustadora. - Não havia pensado muito na morte até este momento. Evidente que sei que a morte é algo que acontece aos vivos, às plantas e animais, mas não necessariamente aos Grandes Deuses. A Presença o fez lembrar das sensações quando chegou ao submundo e ele perguntou se também havia morrido. Percebeu uma leve expressão que parecia um sorriso respondeu que ele também havia renascido; que o Mundo Subterrâneo é a Realidade Interior de tudo o que foi, é e será. É o encontro entre vida e morte para que possa haver a cura e a regeneração através do entendimento do equilíbrio e justiça, conhecimento este que é raramente encontrado no Mundo Físico. Que vida e morte formam um ciclo e o mundo subterrâneo está ligado às Esferas Superiores em função dele.
Viver é bem mais do que satisfazer as necessidades básicas do corpo, pois deve também levar em conta a realidade do espírito e se todos os seres vivos se dessem conta disso, poderiam ver sua existência física como caminho de evolução.
Fez-se silêncio, e Enki liberou uma lágrima enquanto alterava seu estado de consciência e viu tudo se transformar na imagem do Mundo Físico Original e reconheceu aquela Presença como sua amada irmã Ereshkisgal.

E na sua frente não havia mais o amontoado de ossos descarnado mas sim uma jovem mulher de idade indefinida, de longos cabelos negros, toda vestida de preto e prata. Se abraçaram e ela lhe disse ter escolhido ficar lá que precisava ficar lá para ajudar aquele que que sofrem por coisas que nunca experimentaram no Mundo Físico a ter entendimento de todo o equilíbrio. Seu trabalho é assegurar que todos os que buscam a essência além da aparência a encontrem.
E ele entendeu que ela era a Guardiã de todos os segredos do Mundo Subterrâneo e que é necessária lá.e que se as Esferas Superiores são o domínio da Forma, onde a Essência está no interior, o Mundo Subterrâneo é o domínio da Essência Perfeita, que está contida na Forma, e que será vista por todos aqueles cuja Visão Interior se projetar além das aparências tudo o que existir no exterior também é igual ao que existe no interior

Então ela deu-lhe como presente de despedida uma semente do submundo que Enki plantou no Mundo Físico após seu retorno e esta cresceu como uma arvorezinha simbolizando um portal para os outros mundos.
E assim a vida veio das profundezas interiores como realmente acontece com todas as coisas.


3 comentários:

Andréa Lagôa Clemente disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Andréa Lagôa Clemente disse...

" não existiria luz, se não houvesse a escuridão, a vida é mesmo assim!! Dia e noite, não e sim!! Eu te amo, calada. Como quem ouve uma sinfonia, de silencios e de luz....Tudo que cala, fala mais alto ao coração... tem certas coisas que eu eu não sei dizer....." (lulu Santos- certas coisas)
Chorei....
Beijossssssss

)O( disse...

Bom texto, qual a fonte?